Você conhece o circuito histórico-cultural que conta sobre a presença e legado afro-brasileiro na cidade do Rio de Janeiro?
Você já ouviu falar sobre a Pequena África?
A Pequena África do Rio de Janeiro
A Pequena África do Rio de Janeiro é composta por diversos lugares da memória e cultura afro-brasileira. Ela se localiza principalmente na região da Zona portuária, que engloba bairros como a Saúde, Gamboa, Santo Cristo, além da Praça Onze na região Central.
A localidade recebeu esse nome a partir da observação atenta do sambista e compositor Heitor dos Prazeres, que lá residia e convivia com uma intensa diversidade de africanos e seus descendentes na região. Heitor considerava a região uma reconstrução da África no Brasil, através da sociabilidade e comunidades recriadas no pós-escravidão na Zona Portuária, palco do maior mercado escravista das Américas. Assim nasce a Pequena África do Rio de Janeiro, que em 2011, passa a ser também denominada como o Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana, que surgiu após um decreto Municipal firmado com o objetivo de promover a valorização da memória e a proteção deste patrimônio cultural.
O Decreto considerou elementos históricos importantes, tal como, o conjunto de evidências arqueológicas encontradas em 1996 no Cemitério dos Pretos Novos e em 2011, durante as escavações por conta das obras de revitalização da cidade. O Cemitério dos Pretos Novos foi encontrado pela família Guimarães em meio a uma obra de expansão de sua casa. O espaço se torna em 2006, o Instituto dos Pretos Novos, hoje aberto à visitação para quem busca conhecimento sobre um dos maiores crimes contra seres humanos: a escravidão. No Cais do Valongo foram encontrados vestígios e objetos pessoais de africanos escravizados. O Cais esteve desaparecido devido às sucessivas concretagens realizadas por gestores da cidade, apagando da história o maior porto escravista das Américas. É justamente no ano de 2011, que a história do Cais do Valongo é desenterrada 200 anos após a sua construção. A construção dessa obra ocorreu no período da presença da Família Real Portuguesa no Brasil.
Os lugares da memória inicialmente indicados pelo decreto são:
- Centro Cultural José Bonifácio, que em 2017 se torna o Muhcab – Museu da História e Cultura Afro-Brasileira;
- Cemitério dos Pretos Novos (Instituto Pretos Novos);
- Cais do Valongo e da Imperatriz;
- Jardins do Valongo;
- Largo do Depósito; e
- Pedra do Sal.
Em 2017, a Rota do Escravo incluiu o Cais do Valongo na lista de Patrimônios da Humanidade e em 2018, o Governo Estadual do Rio de Janeiro abrange ao Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana outras áreas da Região Portuária, do Centro Histórico do Município do Rio de Janeiro e demais caminhos da Diáspora Africana pelo Estado.
Na região Central do Rio de Janeiro foram considerados tais lugares da memória afro-brasileira:
- Antiga Alfândega (Casa França-Brasil);
- Igreja da Candelária;
- Igreja de Santa Rita de Cássia;
- Igrejas e Irmandades Negras;
- Museu do Negro;
- Igreja de São Gonçalo Garcia e São Jorge;
- Ruas da Alfândega, Quitanda e Rosário.
Na região da Zona Portuária do Rio de Janeiro mais lugares da memória afro-brasileira foram inseridos, atualizando os seguintes espaços:
- Largo São Francisco da Prainha;
- Morro da Conceição e o Quilombo da Pedra do Sal;
- Pedra do Sal;
- Conjunto arquitetônico do Cais do Valongo ,Cais da Imperatriz e Praça Municipal (atual Praça Jornal do Comércio);
- Cais do Valongo Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco;
- Edifício Docas Pedro II;
- Remanescente da casa de nascimento de Machado de Assis;
- Jardins Suspensos do Valongo;
- Largo do Depósito;
- Rua Barão de São Félix;
- Praça da Harmonia e Adjacências;
- Local da Revolta da Vacina;
- Cemitério dos Pretos Novos (Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos – IPN Museu Memorial);
- Centro Cultural José Bonifácio – Muhcab.
Através de uma visitação com uma narrativa decolonial que evidencia personagens apagados ou poucos celebrados na história, é possível conhecer os principais locais de memória e legado cultural afro-brasileiro. Contamos com uma equipe de guias de turismo especializados pelo Instituto dos Pretos Novos, que busca através de ações educacionais capacitar profissionais da Educação e do Turismo. O foco é a apresentação de uma história não contada ao longo de muitos anos nas escolas do país, e que sofreu um apagamento histórico por conta do racismo estrutural presente na sociedade brasileira. O passeio-aula é uma oportunidade de conhecer uma narrativa afrocentrada, com guias de turismo preferencialmente negros e pardos que contam com autenticidade e representatividade sobre a vivência do negro na diaspora africana na cidade do Rio de Janeiro. Nos debruçamos na literatura de importantes autores da história e cultura afro-brasileira, destacando o pensamento social de uma época até os dias de hoje; a resistência negra; a formação da sociedade brasileira; e o legado cultural através da reinvenção do negro na diáspora africana no Brasil.
Conheça a Pequena África!
Fonte bibliográfica: DECRETO Nº 34.803 DE 29 DE NOVEMBRO DE 2011
Fonte da imagem 01: https://www.ccpar.rio/circuito-da-heranca-africana/
Emily Borges
Graduada em Turismo pela UFRRJ.
Docente no Turismo no Ensino Profissional.
Guia de Turismo Regional/Nacional América do Sul.